Por Thiago Rosenberg
[conto selecionado para a coletânea Desnamorados: um livro colaborativo sobre o amor, de 2014; o livro foi desenvolvido a partir de uma chamada aberta para contos ou poemas de amor, seguindo apenas uma regra: o nome das personagens centrais, Pilar e Acir]
– Conte-me o que aconteceu, Acir.
– Não aconteceu nada.
– A professora me disse que você gritou com ela e bateu no Samir, Acir.
– Eu não gritei com ela.
– Ela me disse que você gritou.
– Eu não gritei, não. Eu gritei com a sala toda, menos com ela.
– E então por que você fez isso, Acir?
– Porque são todos uns idiotas.
– Não fale assim, Acir. O que eles fizeram com você?
– ...
– Acir.
– Eles me provocaram de propósito.
– Fazendo o quê?
– A professora me colocou em dupla com a Pilar e eles começaram a dizer que a gente era namorado.
– E qual é o problema, Acir?
– A gente não é namorado!
– E que tem se eles dizem que são?
– A gente não é!
– Mas isso é motivo para gritaria, Acir?
– Eles também gritaram, e ainda gritaram mentira.
– Entendi, Acir. Você não é namorado da Pilar.
– Não.
– Você não gosta dela?
– ...
– Gosta?
– Normal.
– O que é gostar normal, Acir?
– ...
– Bom. Depois você bateu no Samir.
– Ele levantou e disse que se eu não queria fazer dupla com a Pilar ele fazia.
– E você bateu nele por causa disso?
– É a professora que faz as duplas.
– Mas você não quis fazer dupla com a Pilar, Acir. E ele se ofereceu.
– Eu não disse que não queria fazer dupla com ela. Eu só disse que a gente não era namorado.
– E ficou bravo porque o Samir, e não a professora, escolheu a dupla dele.
– É.
– Não é a professora que teria que ficar brava com ele? O que ela disse?
– Ela disse que se a Pilar quisesse ela podia ir fazer dupla com o Samir.
– E a Pilar, Acir?
– Ela disse que queria.